Um espasmo no útero
anuncia minha morte. Tua língua despeja o veneno que me matará
aos poucos. Um frêmito nas pernas começa a me transportar para fora
de mim. E desse mundo. Mais um leve tremor no ventre e você, tão próximo, passa
a ser apenas uma sombra. Meus olhos rodam como duas piorras, as mãos começam a
pesar mais do que meu próprio corpo. Já não me pertenço.
Quero me agarrar
a um fio de vida. Encontro teus cabelos negros e grossos. Quanto mais resisto
mais você me envenena. Jogo meus calcanhares contra tuas costelas. Você
continua firme no teu propósito. Desço as mãos até teus ombros e guardo um
pouco da tua pele sob as minhas unhas. Meus dedos amolecem, morrerão antes de
mim. Urro tão alto que ninguém me escuta.
Tua língua
libera ainda mais veneno. Vibro enquanto você me devora.
Quero fugir, tento mexer minhas pernas com a força que ainda me resta. É inútil
lutar. Peço socorro em vão. Alcanço teu rosto, teu suor, teus braços, teus
ombros, tuas costas, quero te levar comigo para o precipício em que você está
prestes a me lançar. Procuro teus olhos em desespero, mas já não os encontro. Estou
caindo. Ca...indo. Tento me apegar a algo de concreto que já não existe mais.
Passei para outro estado: líquido ou gasoso? Não posso mais, não consigo fazer
qualquer movimento, a não ser estremecer nesse gozo que me fará nascer mais uma
vez.
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