Caminhava pensando no meu cabelo, nem
liso, nem crespo, no meio do caminho, sem saber se para a esquerda ou para a
direita, feito criança na bifurcação, quem a causa e quem a consequência?, meu
medo do Lobo Mau, sempre perdida na floresta, Maria Bethânia ou Sinead O’
Connor?, ô meudeus, que lugar ocupamos no mundo, afinal, meu cabelo e eu?
Comprido para estar sempre preso, curto para estar sempre solto, é muito xampu,
tantas (in)decisões, tanto tempo, onde está a minha mãe para me tirar da
bifurcação?, foi quando a moça passou ao meu lado, passos de quem já encontrou
seu lugar, alta, tão alta quanto eu, magra, tão mais magra que eu, cabelos
cobreados, era uma coisa linda de se ver debaixo do sol, todos os fios
exatamente onde deveriam estar, nenhum em fuga, o oposto dos meus, aquela
beleza era uma ofensa, numa trança tecida por algum artesão persa, em torno de
toda a cabeça, numa espécie de coroa. Isso, numa espécie de coroa para quem já
sabe aonde vai.
quinta-feira, 7 de julho de 2016
segunda-feira, 4 de julho de 2016
Aquilo é uma garça?
Uma casa, abandonada. Um
pasto, uma vaca e seu bezerro. Uma árvore, não sei qual, não sei nome de
árvores, nem de flores nem de pássaros nem de nuvens. Não sei nada, a não ser
imaginar: eu e você, na casa abandonada. A gente nem se conhece, mas imaginar eu
posso, ombros lado a lado, imaginar eu sei. Perguntaria se você gosta de
mexerica, se toma café ou chá, se sente medo de andar nas pedras como eu, se
dorme de meia, é claro que não dorme de meia, eu não sei nada, nem fazer
perguntas, preciso nos tirar daqui.
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