quinta-feira, 7 de julho de 2016

O teu cabelo

Caminhava pensando no meu cabelo, nem liso, nem crespo, no meio do caminho, sem saber se para a esquerda ou para a direita, feito criança na bifurcação, quem a causa e quem a consequência?, meu medo do Lobo Mau, sempre perdida na floresta, Maria Bethânia ou Sinead O’ Connor?, ô meudeus, que lugar ocupamos no mundo, afinal, meu cabelo e eu? Comprido para estar sempre preso, curto para estar sempre solto, é muito xampu, tantas (in)decisões, tanto tempo, onde está a minha mãe para me tirar da bifurcação?, foi quando a moça passou ao meu lado, passos de quem já encontrou seu lugar, alta, tão alta quanto eu, magra, tão mais magra que eu, cabelos cobreados, era uma coisa linda de se ver debaixo do sol, todos os fios exatamente onde deveriam estar, nenhum em fuga, o oposto dos meus, aquela beleza era uma ofensa, numa trança tecida por algum artesão persa, em torno de toda a cabeça, numa espécie de coroa. Isso, numa espécie de coroa para quem já sabe aonde vai. 




segunda-feira, 4 de julho de 2016

Aquilo é uma garça?


Uma casa, abandonada. Um pasto, uma vaca e seu bezerro. Uma árvore, não sei qual, não sei nome de árvores, nem de flores nem de pássaros nem de nuvens. Não sei nada, a não ser imaginar: eu e você, na casa abandonada. A gente nem se conhece, mas imaginar eu posso, ombros lado a lado, imaginar eu sei. Perguntaria se você gosta de mexerica, se toma café ou chá, se sente medo de andar nas pedras como eu, se dorme de meia, é claro que não dorme de meia, eu não sei nada, nem fazer perguntas, preciso nos tirar daqui.