Como chegou ao café com pernas
tão bambas, não sabia explicar. Olhou para os pés, mas não encontrou as
formigas que sentia devorá-los. Talvez fosse só o bafo da manhã. Talvez a fome:
havia saído de casa só com angústia no estômago. Pediu uma média e um pão na
chapa. O pão ela jogou na lixeira da calçada. Na média conseguiu dar dois
goles. A agonia quis sair em formato de vômito. Uma gota de suor gelado
despencou da testa para o colo. Tentou, mas o bom dia para o balconista não saiu. Uma família dormia na calçada.
E suas crianças, onde estavam? Olhou novamente para o atendente que lhe
entregara o café, mas não o reconheceu. Por um instante viu seus filhos
deitados na rua e seu amor sendo jogado no lixo não reciclável. A angústia
começou a gritar sufocada dentro do estômago. Tentava subir até a garganta, mas
um gole no café frio deixado em cima do balcão a fez descer. Viu as portas
abertas de um ônibus e entrou.
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