Ele empacotava
as verduras e os ovos sob o meu olhar atento. Um sorriso súplice tentava
disfarçar as mãos levemente trêmulas e os cabelos grisalhos, destoantes das
mãos firmes e ágeis dos colegas com cabelos escuros lambuzados de gel. A caixa me
explicou que se tratava de um novo programa social da empresa. Eu apenas queria
os ovos inteiros. Pedi que os produtos de limpeza ficassem por baixo do resto
quando a chuva veio com a força das horas. A paisagem embranquecida molhou meus
planos de chegar a tempo na manicure antes de buscar as crianças na escola. Ele
largou os pés de alface, os tomates, os ovos e os iogurtes em cima da esteira e
saiu para o meio da rua, rodopiando com os braços esticados e as palmas das
mãos voltadas para o céu que me castigava:
Perdoa eu, moça. De onde eu vim não tinha
água.
Chorei com esse texto Lu. Acho que derramei mais lagrimas do que as gotas da chuva.
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