Acordou com as
badaladas que marcavam a metade de um dia como se anunciassem uma festa. A
cabeça doía, não conseguia fixar os olhos no relógio que marcava as horas que
ele já sabia quais eram: talvez a grande batalha humana seja livrar-se de um
hábito. A garrafa vazia no chão de carpete verde e puído, pontas de cigarro que
formavam um pequeno Everest sobre o cinzeiro, a sola do pé encardida de tanto
carpete, o lençol florido atirado para fora da cama, a presença da ausência
dele, a foto dos dois sorrindo no porta-retratos. A tentação de rasgá-la impedida
pelo sentimento de que assim o mataria. Foi até a janela, no caminho procurou
por um cigarro, encontrou uma maçã, um pouco murcha, mas uma maçã. A Igreja da
Consolação já em silêncio, mais uma vez vislumbrou seu corpo caindo do oitavo
andar, nem dia de confissão era. Teria que aguardar as nove horas da manhã seguinte.
Vestiu uma camiseta jogada sobre o sofá estampada com a advertência your ego is not your amigo e saiu para
comprar cigarros e uma caixinha de água de coco.
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