Cala a boca, menino. Ele não cala. No colo da mãe, tem medo. Cinco anos. Cala a boca, menino. Ele tem medo de quem quer o dinheiro dos seus pais. Quatro
mil e quinhentos reais. Dinheiro recebido por quase escravos. A mãe veio pra cá
(cá?) buscar o corpo do cunhado. Ficou. O menino nasceu. O rostinho no documento
de identidade brasileira. Cala a boca, menino. O menino não cala. Pá! Um tiro
na cabeça, pro menino aprender a calar a boca. A mãe veio pra cá (pá?) parir e
enterrar um filho. O único. E todo filho não é único? A mãe foge da miséria e
encontra a quase escravidão. Tem gente que apesar de nascer e viver respirando,
nasce e vive sem vida. Gente insistente. Sem pátria, sem língua, sem cunhado,
sem pai, sem mãe, sem emprego, sem casa, sem comida, sem dinheiro, sem
documento, sem merecimento, sem dignidade, sem filho, sem vida. A declaração
dos direitos humanos! Valter Hugo Mãe me socorra, mas a Maria da Graça também
definha de tristeza com o rabo pra cima. Pelo menos não atiraram no Seu
Ferreira, no rabo dela, no filho que ela não teve. A vida já é trágica o
suficiente sem a pólvora. Valter Hugo Mãe me socorra, mas é o apocalipse dos
trabalhadores. Perco as linhas na turbidez dos meus olhos. Peço socorro num quarto
cego, surdo e mudo. Porra. Por que não calou a boca, Brayan?
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