Nove badaladas na
Sé cinza, garoenta e fedida. Dois pombos roliços disputam o mesmo buraco no
beirado do Palácio da Justiça. Um desembargador precisa de um café quente,
forte e sem açúcar: uma pauta com duzentos e cinquenta julgamentos e uma noite mal
dormida por causa da tosse da esposa. Um jornaleiro que deseja boa sorte a quem
passa por ali não sabe que a sorte só estará de um lado. O desembargador que
dormiu mal ainda não sabe se responsabilizará o médico que apertou demais o
fórceps no parto da mulher cujo nome ele nem mesmo lembra. A mulher que tentou
engravidar por cinco anos e saiu da maternidade com os braços vazios. A mulher
que está no fundo da sala de julgamento, mas que ele não conhece.
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