segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Migração


Para Francisco


Nunca vi um pato voando, ele me disse. Eu também não, filho. Preciso corrigir essa falha, antes que eu morra sem vermos um pato voando. Posso morrer sem juntar um milhão ou sem ver o Taj Mahal. Posso morrer sem perder dez quilos ou sem plantar uma árvore. Mas sem vermos um pato voando? Não. Vamos, filho, parece que podemos vê-los em Portugal rumo ao norte da África. E podemos aproveitar para comer doces feitos com ovos, gemas bem amarelas, da cor do meu coração diante de um sorriso teu. Podemos ver onde morou Pessoa, quem sabe esbarrar no braço de António. Podemos entender se os portugueses são poetas por causa da luz. Ou podemos não entender. Posso morrer sem entender tantas coisas (se a cada dia já entendo menos), mas sem vermos um pato voando, não. Isso não. 

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