Para Francisco
Nunca vi um pato
voando, ele me disse. Eu também não, filho. Preciso corrigir essa falha, antes
que eu morra sem vermos um pato voando. Posso morrer sem juntar um milhão ou sem
ver o Taj Mahal. Posso morrer sem perder dez quilos ou sem plantar uma árvore. Mas
sem vermos um pato voando? Não. Vamos, filho, parece que podemos vê-los em
Portugal rumo ao norte da África. E podemos aproveitar para comer doces feitos
com ovos, gemas bem amarelas, da cor do meu coração diante de um sorriso teu.
Podemos ver onde morou Pessoa, quem sabe esbarrar no braço de António. Podemos
entender se os portugueses são poetas por causa da luz. Ou podemos não
entender. Posso morrer sem entender tantas coisas (se a cada dia já entendo menos), mas sem vermos um pato voando, não. Isso não.
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