segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Infarto ou derrame?


Um formigamento no braço esquerdo. Três da manhã. Sempre três da manhã. Devia estar dormindo sobre o braço, é isso, apesar de não ser meu estilo, mas só pode ser isso. Mas a circulação não volta. É só virar para o lado direito então. Viro. Mas o formigamento começa no pé esquerdo. Estranho. Sobe pela perna, ameniza na cintura, mas dá a volta no seio. Um aperto. O que começa mesmo com um formigamento? Infarto? Derrame? O formigamento aumenta, como se todas estivéssemos diante da formiga-rainha. Vou ao quarto dos meus filhos para uma despedida? Não. Toda despedida é piegas, não quero deixar essa impressão. E se morro abraçada a eles?, tão pequenos para se desvencilharem do meu corpo. Ficarei por aqui, que me encontrem já de manhã. Prefiro morrer quieta. Não tenho nada a dizer que vá fazer alguma diferença. Talvez algo para o pai deles: cuide dos meus meninos. Mas, além de piegas, a frase é inútil. É isso: terminarei quieta, eu e minhas formigas.

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