Um formigamento no braço esquerdo. Três da manhã. Sempre três
da manhã. Devia estar dormindo sobre o braço, é isso, apesar de não ser meu estilo, mas só pode ser isso. Mas a
circulação não volta. É só virar para o lado direito então. Viro. Mas o
formigamento começa no pé esquerdo. Estranho. Sobe pela perna, ameniza na
cintura, mas dá a volta no seio. Um aperto. O que começa mesmo com um
formigamento? Infarto? Derrame? O formigamento aumenta, como se todas
estivéssemos diante da formiga-rainha. Vou ao quarto dos meus filhos para uma
despedida? Não. Toda despedida é piegas, não quero deixar essa impressão. E se
morro abraçada a eles?, tão pequenos para se desvencilharem do meu corpo.
Ficarei por aqui, que me encontrem já de manhã. Prefiro morrer quieta. Não
tenho nada a dizer que vá fazer alguma diferença. Talvez algo para o pai deles:
cuide dos meus meninos. Mas, além de piegas, a frase é inútil. É isso:
terminarei quieta, eu e minhas formigas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário