No sonho dessa noite eu zelava pelos meus filhos enquanto
eles, cada um carregando um paralelepípedo nas mãos, atravessavam uma praça
repleta de pessoas segurando guarda-chuvas pretos abertos. Não chovia. Eu olhava de cima, talvez da janela de um edifício, talvez
da varanda de uma casa construída na parte mais alta da rua, talvez do céu,
torcendo para que eles driblassem todas as pessoas, até chegarem salvos ao outro lado
da praça, com os paralelepípedos ainda nas mãos. Mas a praça não tinha fim, mesmo
do meu ponto de vista. Era como ver o mar. Então acordei com as costas e os
cabelos úmidos, o coração dilatado atrapalhando a passagem do ar pelos pulmões:
e se eles não conseguirem atravessar a praça? Sentei na cama, ainda escuro, um deles dormia ao meu lado, nem
vi como chegou ali, mas estava, e era bom. As perninhas descobertas ainda com
tanto para caminhar. Senti o cheiro do bafo quente dele, sussurrei um “eu te
amo” na falta de frase mais precisa para aquilo que carrego no peito. E a primeira notícia do dia foi que
uma criança estava morta. Uma criança morreu!, eu queria gritar da janela para
que o mundo parasse. Parem as máquinas, liberem o sol e o silêncio, desabrochem
as flores e soltem os pássaros porque uma criança morreu! Só hoje, só por hoje, tornemos o mundo
mais bonito.
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