quinta-feira, 31 de março de 2016

Porque meus filhos estão em todas as crianças


No sonho dessa noite eu zelava pelos meus filhos enquanto eles, cada um carregando um paralelepípedo nas mãos, atravessavam uma praça repleta de pessoas segurando guarda-chuvas pretos abertos. Não chovia. Eu olhava de cima, talvez da janela de um edifício, talvez da varanda de uma casa construída na parte mais alta da rua, talvez do céu, torcendo para que eles driblassem todas as pessoas, até chegarem salvos ao outro lado da praça, com os paralelepípedos ainda nas mãos. Mas a praça não tinha fim, mesmo do meu ponto de vista. Era como ver o mar. Então acordei com as costas e os cabelos úmidos, o coração dilatado atrapalhando a passagem do ar pelos pulmões: e se eles não conseguirem atravessar a praça? Sentei na cama, ainda escuro, um deles dormia ao meu lado, nem vi como chegou ali, mas estava, e era bom. As perninhas descobertas ainda com tanto para caminhar. Senti o cheiro do bafo quente dele, sussurrei um “eu te amo” na falta de frase mais precisa para aquilo que carrego no peito. E a primeira notícia do dia foi que uma criança estava morta. Uma criança morreu!, eu queria gritar da janela para que o mundo parasse. Parem as máquinas, liberem o sol e o silêncio, desabrochem as flores e soltem os pássaros porque uma criança morreu! Só hoje, só por hoje, tornemos o mundo mais bonito.

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