Na sala da nossa
casa tinha uma mesa de centro redonda. Meu pai tinha uma vitrola e minha mãe um
rabinho de cavalo. Rabinho porque o cabelo dela, desde que eu a conheci, era
fino e não muito comprido, de forma que sempre que ela o prendia num rabo de
cavalo ficava um rabinho e não um rabo ou um rabão. Nosso pai viajava muito e
ficávamos só com nossa mãe, quando ela não trazia o pai dela para nos fazer
companhia (hoje, entendo, quando ela não trazia o pai dela para cuidar dela
para ela poder cuidar da gente). Então gostávamos de colocar um disco para
tocar na vitrola, do Kleiton e Kledir, para ouvir Maria Fumaça. A música
começava devagar (Essa Maria Fumaça é devagar quase parada) e nós três – eu,
meu irmão três anos mais novo que eu, minha irmã dois anos mais nova que meu
irmão – começávamos a correr em volta da mesa de centro redonda. O ritmo da
música começava a acelerar (oh seu foguista bota fogo na fogueira) e nós
acelerávamos junto, e nossa mãe entrava na corrida, atrás dos três filhos, os
três filhos atrás da mãe, nós quatro uma maria fumaça completa, as oito pernas cada
vez mais aceleradas (e dá-lhe apito e manivela passa sebo nas canelas), as
risadas cada vez mais altas, não podíamos perder tempo, tínhamos que dar o
nosso máximo (se por acaso eu não casar alguém vai ter que indenizar), e de
tudo o que havia ali, naquela casa, naquela sala, naquele momento, em volta daquela
mesa, o que eu mais gostava de ver era o rabinho de cavalo da minha mãe voando
enquanto ela ria e corria em volta da mesa como um de nós três.
quem tá chorando levanta a mão o/////
ResponderExcluirEspero que seja aquele chorinho gostoso, de quentura. Beijo, querida!
Excluir