Se eu pudesse me sentar para chorar num canto escuro, no
fundo de um cinema esquecido no centro da cidade com um filme mudo em projeção,
preto e branco como as cores que não enxergo. Mais. O sal das lágrimas; nada de
pipoca. Se eu pudesse me sentar para chorar no fundo desse cinema porque não
posso ir até a Croácia. Porque a Iugoslávia não existe mais. Tenho o sangue
ralo, as raízes frouxas, muito concreto sob os pés. Se eu pudesse chorar não só
pela guerra que existe em mim, os buracos sem restauro deixados pelo meu corpo,
se eu pudesse me sentar sobre eles para chorar. Se eu pudesse ocupar a casa que
não me pertence e que não sei nem mesmo onde fica. Não sei como chegar do outro
lado do oceano. Todo o oceano que preciso chorar no fundo escuro desse cinema
esquecido no centro da cidade com um filme mudo em projeção. Em preto. E
branco.
Belíssimo texto, Luciana.
ResponderExcluirObrigada, Gustavo, pela visita e pela mensagem.
ExcluirLuciana