quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Cigarros


Ele saiu para comprar cigarros. E ela, uma semana depois, olhando a cama ainda desarrumada, o travesseiro dele que agora ela usava para apoiar os joelhos, a marca de cigarro que ele deixou no sofá, aquele buraquinho bem onde ela gostava de apoiar o braço, as cervejas na geladeira, ela preferia vinho, as crianças perguntando onde, quando, por quê, ainda, já, os brinquedos espalhados pela sala, ela não iria mais pedir para recolherem, nem os brinquedos, nem as meias, nem os papéis, nem as canetinhas, nem os sapatos, nem as fantasias, nem os documentos, nem sua dignidade, nem sua autoestima, nem as fotos picotadas pela mais genuína raiva, nada, não recolham nada, e ela, uma semana depois, olhando os próprios pés, iria sair para comprar o quê?

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