terça-feira, 4 de agosto de 2015

Nunca para os pés










Estou deitada. Olho para as minhas pernas e vejo as pernas da minha avó. Não as pernas da minha avó numa fotografia, mas as pernas da minha avó quando ela já era minha avó. Velha, portanto. O mesmo tom do branco, um branco rosado, um branco rosado pálido. As mesmas veias aparentes, umas bem azuis outras esverdeadas. A mesma espessura de coxas, quase um abraço de duas mãos. O mesmo redondo nos joelhos. As mesmas manchas vermelhas, como uma alergia de nascença. Não olho para o resto, não por hoje, deixo o nariz e o queixo para amanhã. Amanhã e depois de amanhã e depois de depois de amanhã até não precisar mais olhar, até não parar os olhos em nenhum detalhe porque a partir de agora – já – serei a cada dia mais a minha avó.

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