Estou deitada. Olho para as minhas pernas e vejo as pernas da minha avó. Não
as pernas da minha avó numa fotografia, mas as pernas da minha avó quando ela
já era minha avó. Velha, portanto. O mesmo tom do branco, um branco rosado, um
branco rosado pálido. As mesmas veias aparentes, umas bem azuis outras
esverdeadas. A mesma espessura de coxas, quase um abraço de duas mãos. O mesmo
redondo nos joelhos. As mesmas manchas vermelhas, como uma alergia de nascença.
Não olho para o resto, não por hoje, deixo o nariz e o queixo para amanhã.
Amanhã e depois de amanhã e depois de depois de amanhã até não precisar mais
olhar, até não parar os olhos em nenhum detalhe porque a partir de agora – já –
serei a cada dia mais a minha avó.
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