Duas da tarde
sob a ameaça de chuva. Passageira, como tudo que existe, mas chuva. Ela não
entrou na igreja para se esconder da água. Nem para rezar. Mesmo porque, não
sabia. Quer dizer, num momento de desespero conseguia soltar um Pai Nosso e uma
Ave Maria, como aprendeu com a mãe, mas sabia que aquelas palavras, ditas por
ela, um olho fechado e outro aberto, de nada valiam, ainda que tivesse um fio
de esperança: se deus é Deus, Deuuusss mesmo, maiúsculo, então podia entender
as dúvidas que surgiam no coração dela, inchado de dor, por exemplo, quando viu
na porta da igreja um bebê mamando num peito frouxo, murcho e fedido de uma mãe
que babava ao pedir um real. Real, deus, ops, Deus? Não era fácil, Deus havia
de entender e compreender que ela queria apenas algumas horas no local mais
silencioso que conseguiu imaginar para terminar de ler o romance que carregava
na bolsa há duas semanas.
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