Ainda entrarei
na primeira sessão de um cinema, logo após o almoço que não terei comido para
poder me entupir de pipoca, desligarei o celular e só o ligarei de volta quando
sair, após a última sessão, espero que já no dia seguinte, uma
quinta-feira chamada de dia útil, sem que eu esteja de férias.
Ainda passarei
uma tarde de quarta ou quinta ou sexta sentada no banco de uma igreja fria só
para poder ler no mais absoluto silêncio.
Ainda vou tomar
sorvete com meus filhos numa segunda-feira à tarde, sem falar com ninguém além
deles, com exceção do sorveteiro, para quem vou pedir uma bola de flocos e uma
de chocolate e uma de baunilha e uma de limão e uma de figo e uma de framboesa
e uma outra qualquer só para minha barriga doer.
Ainda vou atrás
dele, numa tarde qualquer em que estarei trabalhando e largarei tudo por fazer,
só para perguntar: quer me beijar ou não? Se quiser, que seja já.
Ainda mergulharei na piscina do clube à noite, a janta por fazer.
Ainda voltarei a
dormir mesmo devendo dinheiro.
Ainda falarei:
estou indo para um segredo e volto daqui uma semana.
...
Volto. Se não
voltar, é só porque morri.
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