quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A rachadura


E ela bateu a porta. Nem percebeu a rachadura que se formou no batente. Ele ficou do lado de lá, meio alegre, meio zonzo, meio rindo, meio chorando. Ela fria. Fria e zonza. Fria e zonza e estática. E cansada. Tinha uma chave na mão presa a um chaveiro que compraram juntos em Nova York. Todo mundo compra um chaveiro em Nova York. Ou um ímã de geladeira. Eles compraram os dois. O ímã ela deixou, segurando o papel com a data da próxima consulta dele no neurologista. Precisava acabar com tantas dores de cabeça. Precisava tomar menos café. E dormir mais. E arranjar um emprego. E desistir de alguns sonhos. E trepar menos. Com outras, não com ela.

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