A novidade na
rua era o videocassete que o vizinho havia trazido dos Estados Unidos, um país mais
moderno que o nosso, onde todos podiam comprar tudo que a gente nem imaginava
que existia. Bom...a novidade na rua era o videocassete que o vizinho havia
trazido dos Estados Unidos junto com um filme: Superman. Ou Super Homem.
Fomos convidados
para a sessão com baldes de pipoca. Fomos eu e meus pais. Eu entre eles, de
mãos dadas com os dois. No caminho, meu pai me explicou: não conte nada para
ninguém, mas o filme que veremos agora conta a minha história. Eu sou o Super
Homem. Mas é segredo. Minha mãe calada. Naquela época, eu acreditava que quem
cala consente.
Grudei os olhos
na pequena e chuviscada tela do aparelho de TV. Nem me lembrei da pipoca. Voltei
para casa muda. O que mais me desconcertou foi descobrir que meus avós paternos
não eram mesmo os meus avós. E eu gostava tanto deles, principalmente do meu
avô. Por mais bacana que aquele homem de cabelo e roupas brancas parecesse ser,
eu queria o meu avô. O homem de branco nunca me levaria de cavalinho para lavar
as mãos, nem me daria chocolate antes da janta. Fiquei triste por ele. E pela
minha avó, tão dedicada preparando a lasanha aos domingos. Eles agiam como se
não soubessem. Até o último dia, se comportaram como se fossem os pais
biológicos do meu pai. Eu, nunca contei nada para eles. Nunca.
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