Interior de São Paulo. Ainda não
tínhamos saído da ditadura e a professora de História recém chegada das Minas
Gerais disse que não adotaria nenhum livro. Há
muita mentira nos livros escritos nos últimos anos, foi mais ou menos o que
ela falou para uma classe de pré-adolescentes. Meus olhos se arregalaram. Para
sempre, creio eu.
A de Português nos fazia viajar toda semana pelas páginas da National Geographic. Queria que aprendêssemos a escrever e semanalmente nos pedia um bilhete, além da redação. Podíamos escrever sobre qualquer coisa que nos tivesse acontecido. Ela guardaria segredo se fosse preciso. Eu confessava minhas dores de amor, ela me dava conselhos. Quando eram muitas meninas a sofrer (sim, porque nós sofremos tanto por amor), ela parava a aula, mandava os meninos para o futebol (sim, porque o futebol resolve muita coisa, ou quase tudo, para os meninos), pedia para sair uma pipoca da cozinha e nos ouvia. Comíamos, falávamos,chorávamos e ríamos sentadas no chão da classe. Ela explicava para a coordenadora que essas aulas não eram perdidas. Ela, que reconheceu o
erro ao tentar fazer crianças de dez ou onze anos ler Capitães da Areia, que
fui ler alguns anos depois. Parem,
vocês ficarão com uma impressão equivocada do Jorge Amado. Achei lindo
isso.
A chegada ao Colegial e a uma nova
escola. Eu, que tinha por lema you can
always retake a class but you can never relive a party, acordava animada
aos sábados para ter aulas de Matemática. O único professor que me fez entender
que Matemática não era uma grande decoreba.
Em seguida, as aulas de História com o professor que só aumentou minha paixão
pela matéria. Ele, que desenhava pessimamente o exército de Napoleão. Eram
tantos soldados que da lousa passava para a parede. Ele, que num final de ano,
com o programa já cumprido, viu um jornal espalhado numa cadeira e nos deu uma
aula sobre a história do Estado e da Folha. Até hoje, não consigo ler esses
jornais sem pensar nele. E o professor de Biologia, que estaria à toa numa
tarde de sexta-feira e ofereceu uma aula sobre cobras, matéria que não cairia
na prova. Alguns alunos tiveram que sentar no chão do anfiteatro. Sim, era
sexta-feira. Sim, fora do horário letivo. Sim, a matéria não cairia na prova. E
era verão.
Na faculdade de Direito, entre tantos interessados
apenas no salário no fim do mês, o professor de Direito Civil, responsável pela
minha vontade de me tornar professora dessa mesma matéria. Se eu conseguir
despertar o amor pelo Direito Civil em pelo menos um aluno, como ele fez
comigo, já terá valido a pena. O que ele tinha de especial? Nada. Era apenas
consciencioso.
E agora, minha mestra querida e
respeitada, na árdua e deliciosa tarefa de me ajudar a achar meu caminho na
Literatura, minha paixão primeira. Aquela que torna minhas segundas o dia mais
esperado da semana, quem diria! (estou envelhecendo)
Maraísa, Ângela, Francis, Gian, Edu,
Bedone, Noemi. Esses são os Professores
que eu faço questão de nomear. Sempre.
Caramba, Lu...
ResponderExcluirMuito obrigada, Lu! Também adoro ser sua professora!
ResponderExcluirque delícia, Lu, ter alguns ótimos e inesquecíveis professores em comum contigo! :-)
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