E lá estava ele,
sozinho, sentado num dos bancos da praça, hoje gritando não aguento mais Miojo, não aguento mais Moët & Chandon, não aguento
mais caviar. Eu ri. Ri porque pensei no meu marido que também não deve mais
aguentar Miojo. Ri porque eu mesma não aguento mais Miojo, mas ainda aguento Moët
& Chandon e não gosto de caviar. Que bom! Um gosto caro a menos. E enquanto
eu ouvia e ria, o gari, um homem negro de cabelos brancos, alto e magro, me
disse que é assim o dia inteiro. E
sorriu. E eu sorri de volta. E fiquei com vontade de abraçá-lo e agradecê-lo
por limpar as ruas e por falar comigo com os lábios sorrindo. Fiquei com
vontade de gritar que eu também não aguento mais Miojo. E não fiz nada disso.
Agora estou aqui, só com o meu arrependimento e com os lactobacilos vivos que
ingeri antes de cruzar a praça.
Você sempre me surpreende, por isso não me canso em dizer: gosto como conduz seus textos. Sua urbanidade tem poesia... ou seria o contrário?!
ResponderExcluirAbraços, sempre!!!