Madrugada. Ela, mais uma vez, sentada no chão do quarto dos
filhos, ouvindo suas respirações; procurando a imagem de outras mulheres
abandonadas que lhe pudessem dar o conforto da solidariedade; a filha se mexe
na cama, enrosca os pezinhos no lençol, ela levanta para ajudar, mas não foi
preciso, a menina é mais esperta que a mãe até dormindo; o chão está frio, ela
enrolou o tapete e não o levou para a lavanderia, deve fazer uns três meses,
mais um item para a lista das coisas não feitas; tenta afastar a imagem do
chefe cobrando metas que mais lhe parecem um ornitorrinco; malditas histórias
de princesas, não conta nenhuma para a filha, a menina não pede, é mesmo
esperta, prefere as histórias de monstros do irmão mais velho – sim, em
monstros podemos acreditar, meus filhos.: um vive dentro de mim, mas essa parte
ela nunca contou para as crianças.
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