quinta-feira, 13 de março de 2014

Monstrogadas


Madrugada. Ela, mais uma vez, sentada no chão do quarto dos filhos, ouvindo suas respirações; procurando a imagem de outras mulheres abandonadas que lhe pudessem dar o conforto da solidariedade; a filha se mexe na cama, enrosca os pezinhos no lençol, ela levanta para ajudar, mas não foi preciso, a menina é mais esperta que a mãe até dormindo; o chão está frio, ela enrolou o tapete e não o levou para a lavanderia, deve fazer uns três meses, mais um item para a lista das coisas não feitas; tenta afastar a imagem do chefe cobrando metas que mais lhe parecem um ornitorrinco; malditas histórias de princesas, não conta nenhuma para a filha, a menina não pede, é mesmo esperta, prefere as histórias de monstros do irmão mais velho – sim, em monstros podemos acreditar, meus filhos.: um vive dentro de mim, mas essa parte ela nunca contou para as crianças.

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