Leite
com manga dá dor de barriga. Gato preto traz azar. Bolsa no chão leva o
dinheiro. Ovo no telhado espanta chuva. Nunca acreditei em nada disso, mas um
mês depois dele ter sonhado com seus próprios dentes caindo, ele morreu. Ele no
caixão e eu pensando nos dentes caindo no sonho. Continuei a não acreditar, mas
no meu sonho dessa noite, vinte e três anos depois da morte dele, eram os meus
dentes que desfolhavam e deixavam minha gengiva feito árvore em inverno
rigoroso. Eu tentava colocá-los de volta, mas o vento batia ainda mais e levava
os meus dentes. Todos. À minha frente, a risada da amante do meu marido, feliz
por me ver desesperadamente banguela. Tão feliz. Meu marido, o amante dela, o
nosso mesmo homem impávido. Acordei e corri para o espelho, todos – dentes e
medo – ainda ali, fortes. Um amor já enterrado por causa de dentes caídos; não
sei, pode ser que funcione, mas se for para vir, que venha a morte da amante,
para que eu possa viver até curar minha dor, ao menos. Amém.
eu nunca vou esquecer da história da tartaruga. nun-ca.
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