Ela não
encontrou as meias. Deveriam estar na gaveta, na gaveta de meias, mas há quanto
tempo suas coisas não estavam onde deveriam estar?
Sentou-se na
cama, os pés descalços, as botas de cano curto nas mãos, o frio do lado de
fora, tentando lembrar-se da última vez em que encontrou o que queria no lugar
onde deveria. Era difícil lembrar-se, pensou que uma xícara de café quente a
ajudaria, mas onde estava mesmo a cafeteira? Talvez ele a tivesse levado em
meio a tantas caixas com roupas, sapatos, cintos, livros, discos, envelopes, bolinhas
de tênis, chaveiros, relógios, pastas com documentos, álbuns de fotos, meias!,
talvez fosse isso, talvez as meias estivessem lá, ela não sabe onde, com ele,
com a cafeteira, com tantos outros pedaços da vida dela.
Deitou-se na
cama de onde tinha saído há pouco, os pés gelados, cobriu-se com a manta xadrez
vermelho e azul, da qual ele tanto reclamava. Logo mais ligaria para o chefe.
Teria febre. Teria mesmo.
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