E se o filho tivesse nascido? E se tivéssemos nos casado? E
se tivéssemos ido morar naquele predinho de quatro andares por onde passei
hoje, por acaso, no caminho para uma flora onde fui procurar cactos, quero
encher meu quarto de cactos, as janelas são brancas e não mais azuis, e passei
tanto tempo fantasiando abrir aquelas janelas azuis todas as manhãs, e éramos
felizes na minha imaginação, claro que sim, de quê serviria uma imaginação que
só confirma a realidade? Foi por acaso, dentro do carro procurando a flora e o
predinho apareceu na minha frente, eu o reconheci mesmo com as janelas brancas,
ainda estava ali, em frente à mesma praça onde eu também me imaginava levando o
bebê que não nasceu tomando banho de sol. A vida, meu querido, é feita disso: do
filho que não tivemos, do apartamento onde não moramos, do casamento que não
celebramos, do amor que não vivemos, mas que, preste atenção nisso: também não
destruímos.
Também não destruímos. Mas podemos ser destruídos.
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