Era assim, uma
zonzeira, um grito se chocando contra os ossos, tentando escapar e escapando,
quando um grito não deveria escapar é nunca. Talvez um excesso de glóbulos
vermelhos. Talvez um excesso de pensamentos. Ou excesso de medo. Quem sente medo grita. E ela escorregava pelo
buraco, pedindo ajuda, enquanto o marido falava ao celular do lado de fora. Espere,
ele dizia, mas ela não escutava. Quem sente medo não escuta. Socorro! Mas ele também não escutava. Quem se ama muito não escuta. E o menino
perguntava sobre o Lobo Mau. Ele existe, ela queria dizer, mas não conseguia.
Era a tal zonzeira. Muita gente nas ruas, muitas pessoas caindo no buraco,
algumas agarradas ao celular. Socorro! O Lobo Mau escondido debaixo da cama do
menino, mas tudo o que ela tinha era um repelente contra pernilongos. Eu tenho
medo, o menino chorava. Ela também, mas não conseguia chorar, a não ser debaixo
do chuveiro. Era a tal zonzeira, de endoidecer.
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