quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Eu grito, tu não gritas, ela grita, ele chora


Era assim, uma zonzeira, um grito se chocando contra os ossos, tentando escapar e escapando, quando um grito não deveria escapar é nunca. Talvez um excesso de glóbulos vermelhos. Talvez um excesso de pensamentos. Ou excesso de medo. Quem sente medo grita. E ela escorregava pelo buraco, pedindo ajuda, enquanto o marido falava ao celular do lado de fora. Espere, ele dizia, mas ela não escutava. Quem sente medo não escuta. Socorro! Mas ele também não escutava. Quem se ama muito não escuta. E o menino perguntava sobre o Lobo Mau. Ele existe, ela queria dizer, mas não conseguia. Era a tal zonzeira. Muita gente nas ruas, muitas pessoas caindo no buraco, algumas agarradas ao celular. Socorro! O Lobo Mau escondido debaixo da cama do menino, mas tudo o que ela tinha era um repelente contra pernilongos. Eu tenho medo, o menino chorava. Ela também, mas não conseguia chorar, a não ser debaixo do chuveiro. Era a tal zonzeira, de endoidecer.

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