sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Amor, Ana e eu

Ele estava parado na calçada, como se fosse atravessar a avenida fora da faixa de pedestres. Alto e magro, daquela magreza que faz com que a pessoa pareça mais alta do que é. A pele bronzeada e enrugada vista principalmente no pescoço e nos braços à mostra por uma camisa de mangas curtas. Um cinto fechado no último buraco (talvez até um buraco extra feito com a ponta de uma tesoura ou de uma faca) permitia que a calça jeans não fosse parar nos pés. Um boné branco cobria a cabeça careca que lembrava a ponta de um lápis. Os olhos reduzidos pelas rugas. Em vez de nariz e boca, um buraco aberto. Eu vi um buraco aberto no rosto desse homem sem nariz e sem boca. Só um buraco no meio do rosto. E aberto. E ele parecia que ia atravessar a avenida fora da faixa de pedestres. 

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