Leio sobre um sol fraco que se infiltrava através da neblina
e tingia de rosa e lilás os amontoados de neve. Nunca estivemos juntos na neve.
O sol, depois que você foi embora pela porta do quarto de hotel onde dormi
sozinha com o corpo intacto e as cortinas abertas, não se infiltrou através da
neblina porque naquela cidade onde estávamos, só eu de passagem, não havia
neblina e o tingimento não era de rosa e lilás, mas de vários tons de laranja,
do mais fraco ao mais forte, eu ali adormecida sem ter fechado os olhos por
mais de meia hora durante a madrugada, olhando através da janela exposta pelas cortinas que mantive abertas sem saber a razão, talvez uma esperança ridícula
de te ver caminhando pela rua procurando pela janela do quarto de onde você
tinha acabado de sair, onde nos dissemos “não”, onde decidimos não continuar
uma história, de onde você saiu e eu: não. Em nenhuma outra manhã encontrei
aqueles laranjas todos. Em nenhum caderno consegui terminar a história.
Mas li sobre um sol fraco que se infiltrava através da neblina e tingia de rosa
e lilás os amontoados de neve e pensei em você.
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