Tantas páginas a
serem lidas. Tantas páginas a serem escritas. Olho para o mundo como se ele fosse
apenas uma biblioteca. Meu peito é uma barreira prestes a romper em lágrimas
doces e salgadas. A panela de pressão apita, a criança chora na sala e a conta
corrente está negativa. Devo ao banco, à criança que de mim nasceu, ao homem
que está ali, a mim. Sobretudo devo a mim, mas o feijão vai queimar e a criança
vai sufocar. Fecho o livro, rasgo a página sobre a qual não consigo juntar palavras,
não de forma bonita, não de forma que a barreira se rompa porque talvez essa
seja a única forma de dizer o indizível. Por que, afinal, essa procura, se o
feijão precisa ser posto à mesa, com o arroz e o bife e a alface e o tomate, e nada
será dito sobre isso? Se a fralda precisa ser trocada e ninguém vai dizer uma
palavra? Nem sobre isso, nem sobre qualquer outra coisa.
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