quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Vapor

É que o vapor da água quente me faz bem, fico numa tentativa de transformar em gotículas essa agonia de não saber se trocaram o curativo na testa do meu filho porque passei o dia fora cuidando de problemas alheios para pagar o convênio médico. E outras contas mais. Mas o que se liquefez foi a minha ilusão de que os adultos são donos do próprio coração. Não eu, que tenho um coração que dorme com tosse em duas caminhas. Não eu, que tenho um coração esmagado por um cansaço que eu desconhecia. Minha mãe parecia ser mais sorridente cuidando do nosso almoço. Tento respirar dentro dos táxis enquanto ordeno itinerários com vontade calada de dizer me leve para algum lugar que não conheço. Por favor! E meus cadernos continuam em branco. E ainda sonho com varandas. E ainda não consegui fazer o supermercado. E ainda sinto medo, tanto medo. 

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