Eu
não vi.
Quando
cheguei, o fato que eu não sei qual é já tinha acontecido.
Eu
só vi um homem de meia-idade, negro, tórax bem forte, parado na rua, ao lado de
um carro que esperava o semáforo ficar verde, onde dentro estava uma mulher
velha, mas ainda apegada à juventude, com cabelos tingidos de loiro, uma boca
que lembrava a da Angelina Jolie, óculos escuros sobre os cabelos presos,
sombra, rímel, lápis de olho, blush e batom derretendo – tudo derretendo, com
uma blusa de alças finas e decotada.
Eu
vi uma mulher jovem, essa sim jovem, com saia curta, blusinha colada ao corpo
magro, meias até as batatas das pernas e botas, segurando um canudo bem grande,
desses canudos que guardam plantas de casa, desenhos, essas coisas, debaixo de
um dos braços, parada na calçada, quase em frente ao homem que estava na rua parado
ao lado do carro com a mulher velha que queria ser jovem.
O
homem gritava para a mulher jovem que ela deveria respeitar a mulher velha que
queria ser jovem porque era uma mulher de idade, você não está vendo?
A
mulher jovem gritava que a mulher velha que queria ser jovem deveria respeitar um
cachorro porque cachorro também merece
respeito, sabia? E que se dane a idade dela!
Vi
um cachorro que devia ser cachorra porque estava com uma coleira rosa, ao lado
de uma mulher gorda e suada que também estava na calçada, mas que não abriu a
boca.
O homem
continuava pedindo respeito. A mulher jovem continuava pedindo respeito. A
mulher velha que queria ser jovem pediu respeito. Os transeuntes começaram a
assobiar e a gritar e a tomar partido, mas não sei de quem, porque todos
gritavam uns com os outros pedindo respeito.
A
cachorra, eu vi, aproveitou para fazer xixi e cocô na calçada. E sentou para
esperar a mulher gorda e suada se mexer.
Depois
disso, não sei. Estava com pressa e atravessei a rua.
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