Um grito. Agudo.
Ele acordou assustado. Ela já estava sentada na cama. Suada. Vai nascer!, ela
disparou; a testa, os ombros, os braços e as mãos molhadas. Mais um grito. Ele
tapou os ouvidos, instintivamente. Vai nascer!, mais um disparo. Mas você não
está grávida, ele conseguiu retrucar, acossado no seu canto da cama. Ele não a
reconhecia naquele rosto retorcido. Vai nascer!, era só o que saía daquela boca
escancarada. Você não está grávida!, ele tentou mais uma vez. A camisola
grudada no corpo encharcado mostrava o ventre dela: murcho. Ela parada com a
boca aberta como em um retrato. Edvard Munch era só no que ele pensava. Porra,
você não está grávida! Fora!, fora!, fora!, foi o que começou a sair de dentro
dela. Fora! Ela o tirou da cama com um chute. Fora! Ele pegou só a chave do
carro, foi descalço e com o peito nu. Ela escutou a porta bater e viu escorrer
por suas pernas um líquido marrom avermelhado, espesso e fétido. Mas de
expulsão necessária.
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