segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Testamento

Uni duni tê salamê minguê, o globo rodou nas suas mãos, e o escolhido foi você: Argentina. Nem tão longe assim, pensou, mas não conhecia nada daquele país, pensou um pouco mais, para fugir também não é necessário atravessar um oceano, continuou pensando enquanto se animava com a possibilidade de tomar um vinho e dançar um tango, e dizem que há muitas livrarias em Buenos Aires, mas o dedo caiu na Argentina, por que precisava pensar na capital? E uma cidade desconhecida nos pampas, por que não? Um verde longo de encher os olhos... por que era tão difícil fugir? O que tinha para deixar para trás? O apartamento, casa própria, alegria máxima dos pais dela que tinham uma filha com o nome numa matrícula registrada num cartório de imóveis, antes dos quarenta ainda!, que poderia ser alugado. Uma gata que poderia ser deixada para a prima que sempre ficava mesmo com a Miúcha quando ela viajava, o que era raro, mas acontecia. Um carro que pode ser vendido, uns móveis que podem ficar no apartamento, metade das roupas que podem ser doadas, os chocolates no armário comidos, os vasos com plantas distribuídos pelas ruas, os quadros espalhados pelas esquinas, leve o que quiser, e o que mais?, o que mais de inutilidade essa vida besta nos faz acumular? 

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