Uni duni tê
salamê minguê, o globo rodou nas suas mãos, e o escolhido foi você: Argentina.
Nem tão longe assim, pensou, mas não conhecia nada daquele país, pensou um
pouco mais, para fugir também não é necessário atravessar um oceano, continuou
pensando enquanto se animava com a possibilidade de tomar um vinho e dançar um
tango, e dizem que há muitas livrarias em Buenos Aires, mas o dedo caiu na
Argentina, por que precisava pensar na capital? E uma cidade desconhecida nos
pampas, por que não? Um verde longo de encher os olhos... por que era tão
difícil fugir? O que tinha para deixar para trás? O apartamento, casa própria,
alegria máxima dos pais dela que tinham uma filha com o nome numa matrícula
registrada num cartório de imóveis, antes dos quarenta ainda!, que poderia ser
alugado. Uma gata que poderia ser deixada para a prima que sempre ficava mesmo com
a Miúcha quando ela viajava, o que era raro, mas acontecia. Um carro que pode
ser vendido, uns móveis que podem ficar no apartamento, metade das roupas que
podem ser doadas, os chocolates no armário comidos, os vasos com plantas
distribuídos pelas ruas, os quadros espalhados pelas esquinas, leve o que
quiser, e o que mais?, o que mais de inutilidade essa vida besta nos faz
acumular?
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