Comprar cigarros. Agora, que a casa escureceu e silenciou, eu
poderia comprar cigarros. Um roupão sobre a camisola, pantufas sobres as meias,
o cabelo solto e os olhos inchados, o borrado do rímel que nunca consigo
tirar, eu poderia sair sem que ninguém me visse, todos dormem, ouvi as respirações.
E compraria um isqueiro porque não tenho isqueiros já que não fumo. O amor
custa caro. E fumaria o primeiro cigarro em alguma padaria aberta vinte e
quatro horas. Não se pode mais fumar em padarias. Então um bar. Vodka ou whisky
em vez de café e coxinha. E mais um cigarro. E alguém poderia perguntar se
estou acompanhada. Não, eu diria. E sorriria. E mexeria no cabelo. E soltaria a
fumaça espremendo os lábios e os olhos. E talvez abriria minhas pernas para
sentir que o amor pode não custar tão caro assim. E fumaria mais um cigarro na
espelunca em que estivesse. Tem pizza fria? Não, não sei seu nome e não preciso
saber. Também não sei o meu. Suzana ou Vanessa. Rita ou Marília. Não gosto de
azeitonas. Você já leu Tolstói? Uma cerveja com a pizza fria. Não, não preciso
dessa sua mão na minha ou no meu cabelo. É só isso e não é nada demais. Mais
um cigarro. Uma varanda. Um canal. Uma cachoeira. Uma rua de pedras. E voltaria
com as meias nas mãos, ainda mais descabelada, fedida, pronta para me enfiar na
cama e estar em pé logo em seguida com o café da manhã pronto para eles. Porque
é só disso que se trata.
É só disso mesmo?
ResponderExcluirBj e fk c Deus.
Nana
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