O motorista,
terno preto, estacionou em frente à floricultura e abriu a porta de trás do
carro, de onde saiu o homem grisalho, terno azul marinho, óculos de aro
vermelho em uma das mãos, a ponta de uma das hastes na boca, leves mordiscadas.
O motorista se afastou e o homem grisalho, pele enrugada, mas ainda firme,
continuava a mordiscar a haste dos óculos enquanto apontava para as flores e
falava com o vendedor, abaixando-se em frente a cada um dos vasos, quase a tocar as plantas com a ponta do nariz. Não para as rosas. Não para os
lírios. Não para as gérberas. Uma bromélia? Quase a flor-de-outubro. Até que reparou
na véu-de-noiva, vaso frondoso, as flores brancas naquele fim de tarde com ameaça
de chuva. Ele fez sinal para o motorista, que levou o vaso para o carro
enquanto o homem grisalho escrevia um cartão. E eu, ali, por um instante, não
tão breve, talvez até longo, desejei que tudo aquilo fosse para mim.
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