Não tem mais bom dia. Não tem boa noite. Flores, na casa,
agora só em papeis de parede nos computadores. Está com fome?, quer comer
alguma coisa?, quer um vinho?, vamos dividir o sorvete?, nenhuma gentileza mais
é dita. Você é linda, ele só diz para as outras. E ela sabe. Vamos viajar?,
também só outras escutam. E ela sabe. As pernas fraquejam de cansaço, então ela
fica, ouvindo um eco surdo batendo contra as paredes. A água que escorre do
chuveiro enquanto ele pensa em um corpo que não é dela. E ela sabe. Mas hoje,
tirada de um pesadelo pelo grito do filho que pedia ajuda para limpar o bumbum
sujo de cocô, ela decidiu: iria à padaria. Voltou com seis pãezinhos, duzentos
gramas de presunto, trezentos de queijo prato e um sonho. Só para ela.
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