O café passado com o dia ainda dormindo. A atenção para que o leite fervido não
esparramasse pelo fogão, o que ela, apesar da prática, nem sempre conseguia.
Distraía-se pensando em quanto tempo o ônibus atrasaria e no sonho perdido de
ser secretária, tão bonito cuidar da agenda de alguém; não, o Senhor Mendonça
já tem compromisso nesse horário; ele não está, por favor, deixe recado; e se
aprendesse a falar inglês, então... A luz fraca da cozinha e a respiração
inocente da filha no quarto ao lado, mesmo com o pai sumido junto com o sonho
do secretariado, faziam nascer no seu estômago a sensação de que tudo valia a
pena, mas que também sumia tão logo ela chegava na loja e era obrigada a vestir
uma tiara com orelhas de coelho vermelhas. Vender brinquedos para crianças
mimadas por meio de pais esnobes até que lhe trazia alguma alegria, mesmo que
efêmera. Mas as orelhas...e vermelhas? E lá se foi mais um leite derramado.
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