Os homens árabes são bonitos. A negritude dos cabelos, a pele
curtida, o cheiro do deserto, o nariz concreto e metafórico, a profundidade dos
olhos. Mas, talvez – veja bem, não tenho nenhum estudo no assunto –, os homens
árabes sejam apenas isso: homens bonitos.
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Almir era um desses árabes bonitos. Casou-se com mais de
trinta anos com Iracema, que ainda não tinha completado dezessete. Moravam numa
cidade pequena, dessas com apenas uma rua que vai e outra que volta. Iracema
também era bonita, mas depois de onze filhos e um perder de contas das mulheres
que Almir levou para a cama, definhou. Só voltou a sorrir quando Almir morreu
sem aviso prévio: coração. No velório, muito rímel escorrido. Jamil, o filho
mais velho, ofendeu-se pela mãe. Chegou em casa e tirou das gavetas do finado
pai todas as lembranças das outras. Rasgou cartas, picotou fotografias, pisou
em um frasco de perfume, rasgou um lenço preto com flores vermelhas bordadas,
queimou um livro de poesias. Iracema deixou, o sorriso agora largado.
Jamil casou-se onze meses depois com Ana, que conheceu numa
cidade vizinha. Mudaram-se para uma cidade um pouco maior, duas ruas que vão e
duas que vêm. Jamil já não era desses árabes bonitos como o pai, mas acreditava
que sim e isso bastava. Assim como não desistiu de Ana, a moça mais loira da
cidade, não desistiu de nenhuma das mulheres que quis levar para a cama, uma
conta que Ana também perdeu. Badi, o filho mais velho de Jamil e Ana, cansado
do choro da mãe, um dia, não tão moleque e ainda não adulto, fez as malas para
o pai: fora! Doeu, mas Ana gostou, ao menos alguém tinha aprendido alguma
coisa. Jamil foi. Pelo que contam, não deve sentir a falta de Ana e dos filhos.
Dez anos depois, Badi, árabe tão bonito quanto o avô – para
frustração do seu pai –, apaixonou-se por mim. E eu por ele, sempre calado a me
sorrir. Casamos em menos de um ano de namoro, Ana me garantindo que Badi sim
seria um marido fiel. E assim foi, até que deixou de ser. Também perdi as
contas e o sono, como Ana e Iracema, e possivelmente como as outras que vieram
antes de nós, sobre as quais nunca me contaram. Talvez seja assim mesmo e somos
apenas mulheres bobas que não entendem da vida e da paixão. Um alívio, ao
menos, ainda sinto: o de não ter gerado mais homens nessa família.