Era o primeiro dia dela no balé. Dei
banho, prendi seus cabelos lisos, finos e abundantes no coque mais perfeito que
consegui fazer, para que nem um fio escapasse durante os movimentos que seu
corpo com quatro anos nunca havia feito. Enquanto eu a vestia com meia-calça,
collant, tutu e sapatilhas rosas, imaginava aqueles pezinhos em segunda posição.
Está animada?, deixei escapar minha ansiedade. Ela fez que sim com a cabeça, fornecendo-me um
sorriso que apenas tentava aplacar a minha ânsia, que ela sentia. Eu não queria
ser essa mãe, mas era. Quando tentava esconder a ansiedade em algum recôndito,
o estrago era pior. Então ela aprendeu a sorrir assim e eu a acarinhá-la num
pedido de desculpas, que não me impedia de colocar a câmera na bolsa para
fotografá-la segurando graciosamente a barra, seus primeiros passos de
bailarina.
Chegamos com as outras meninas e suas
mães, todas orgulhosas dos coques de suas filhas, com suas câmeras nas mãos,
menos uma: a mãe da menina careca, também com meia-calça, collant, tutu e
sapatilhas rosas, além de uma gaze passada inúmeras vezes ao redor de um dos
seus braços. Foram todas para o centro da sala, ouviram a professora; depois
para a barra, onde aprenderam a primeira e a segunda posições. Os movimentos
não saíam do corpo da minha filha com facilidade. Ela começou a se balançar na
barra quando deveria segurá-la com apenas uma das mãos, como fazia a menina
careca, atenta e precisa nos seus movimentos.
Esqueci de tirar a câmera da bolsa,
nem me dei conta quando o coque da minha filha se desprendeu todo. Na próxima,
ela iria apenas de rabo-de-cavalo. Ou nem iria mais, se não quisesse.
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