Um menino morreu
na areia, na beira do mar. Nadou e morreu na praia? Um menininho, menininho
mesmo, um ano, dois anos, três anos no máximo. Ou morreu no mar e as ondas o levaram
para a praia onde menininhos deviam apenas construir castelos? Morreu afogado,
morreu de fome, de sede, de dor, de fuga, de não ter culpa da guerra, de não
ter culpa do mapa do mundo ser como é, morreu chamando a mãe que tentou
segurá-lo além do limite da sua força? Morreu sem a mãe? Morreu sem pai? Avós?
Tios? Irmãos? Todos na guerra, na fome, na tentativa desesperada de
sobrevivência? Escrevo tantos clichês, escrevo tantas perguntas que deveriam
ser enfiadas goela – minha goela – abaixo, porque não há respostas. De nada
adianta meu choro molhando o teclado. Que aqueles que não provocam a guerra e
que não pactuam com ela possam ter a mínima liberdade de escolher não ficar ali.
Eu vi a foto desse menininho, como tantos outros menininhos sem escolha, eu sem
escolha com essa dor que porra, porra, porra, me soca o mais fundo do estômago.
E minha dor de nada adianta. Se minha vida servisse para trazer a sua de volta,
menininho, se minha vida servisse para que nenhum menininho e nenhuma mãe e
nenhum pai morresse em fuga, eu me entregava, mesmo que isso significasse deixar
os meus meninos. Eu me entregava.
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