sábado, 2 de maio de 2015

A tevê do meu pai


Meu pai assistia a todos os esportes pela tevê. Todos. Adorava. Torcia. Futebol, tênis, basquete, vôlei, golfe, boxe, ginástica, patinação, ciclismo, natação, surfe, handebol, hipismo, judô, karatê, sentava na poltrona e ficava, torcedor discreto, sorriso plácido, sem cerveja e sem petiscos. Um dia começou a reclamar: os esportistas não eram mais os mesmos, acabou a paixão, acabou a garra, acabou o amor, é muito dinheiro, muito corpo, muita meta, muita performance, rankings, os olhos dele cansados à procura de algo que não víamos, levantava e ia até a cozinha abrir a geladeira para nada pegar, voltava bufando, sentava e logo levantava, uns resmungos engasgados, até desligar a tevê e esperar pela segunda-feira. Um dia parou de reclamar. Um dia deixou de ligar a tevê. E um dia mandou o aparelho embora, ninguém sabe para quem e para onde.

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