Meu pai assistia a todos os esportes pela tevê. Todos.
Adorava. Torcia. Futebol, tênis, basquete, vôlei, golfe, boxe, ginástica,
patinação, ciclismo, natação, surfe, handebol, hipismo, judô, karatê, sentava
na poltrona e ficava, torcedor discreto, sorriso plácido, sem cerveja e sem
petiscos. Um dia começou a reclamar: os esportistas não eram mais os mesmos,
acabou a paixão, acabou a garra, acabou o amor, é muito dinheiro, muito corpo,
muita meta, muita performance, rankings, os olhos dele cansados à procura de
algo que não víamos, levantava e ia até a cozinha abrir a geladeira para nada
pegar, voltava bufando, sentava e logo levantava, uns resmungos engasgados, até
desligar a tevê e esperar pela segunda-feira. Um dia parou de reclamar. Um dia
deixou de ligar a tevê. E um dia mandou o aparelho embora, ninguém sabe para
quem e para onde.
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