Por que, pai, você não me contou a história até o fim, se
aquela era uma das histórias que têm um fim? Eu era tão novinha e sofria a dor
do primeiro amor quando você disse que amor não era para causar dor, que quando
a gente ama o mundo fica mais colorido, cor de rosa brilhante, e que nem de
droga a gente precisava, bastava amar, e eu, que nem bebia, já disse que era tão novinha,
imaginei um mundo onde pôneis passariam voando em cores psicodélicas e
rodas-gigantes com luzes piscantes rodariam pelas ruas ao lado dos carros e dos
pedestres, eu que nem sabia da existência de drogas alucinógenas, imaginei
assim a visão de quem ama, só por causa do modo como você me falou do amor,
pai, e me disse que era assim que via o mundo desde que havia conhecido a minha
mãe, que tudo era um grande barato porque você a amava (e era correspondido,
claro). E a história acabou assim, sem que você me contasse que o amor poderia
também ficar rosa sem brilho, e depois rosa desbotado, depois quase branco, e
branco, e cinza, e cinzas.
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