Uma dor de cabeça da porra que trava tudo.
Não entendo o que acontecerá com as novas regras, se virarem regras, se forem
mesmo novas, da aposentadoria. Quantos anos mais desperdiçando a segunda, a
terça, a quarta, a quinta e a sexta? Não as minhas, mas tantas por aí. A fila
de um quilômetro na porta de uma agência de empregos às oito horas de uma manhã
fria. Dentre tantos homens e mulheres, jovens e velhos, estou ali, apreensiva,
talvez desesperada. Não estou hoje, posso estar amanhã. E se a criança ficar
doente? E se o patrão reclamar da falta? Puta não pode falar, mas patrão pode.
Não entendo nada com esta maldita dor de cabeça, destruindo meu crânio a
machadadas. Um homem acordava no meio da rua, às oito horas e dez minutos dessa
mesma manhã fria. Debaixo do corpo um edredom fino e molhado. Por cima um pano
que já foi cobertor. A fome dele é a mesma que a minha. O sono. O medo do dia.
E da noite, sempre maior. Ele olha para os lados como eu. Espreguiça como eu.
Senta-se na cama como eu. E eu? Passo ao lado, de nada adianta passar e sentir
o estômago se retorcer num choro. Não paro, não volto, não falo, nada ofereço.
Eu, tão mais suja que aquele passado de cobertor. E essa dor de cabeça!
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