quinta-feira, 14 de maio de 2015

Paracetamol

Uma dor de cabeça da porra que trava tudo. Não entendo o que acontecerá com as novas regras, se virarem regras, se forem mesmo novas, da aposentadoria. Quantos anos mais desperdiçando a segunda, a terça, a quarta, a quinta e a sexta? Não as minhas, mas tantas por aí. A fila de um quilômetro na porta de uma agência de empregos às oito horas de uma manhã fria. Dentre tantos homens e mulheres, jovens e velhos, estou ali, apreensiva, talvez desesperada. Não estou hoje, posso estar amanhã. E se a criança ficar doente? E se o patrão reclamar da falta? Puta não pode falar, mas patrão pode. Não entendo nada com esta maldita dor de cabeça, destruindo meu crânio a machadadas. Um homem acordava no meio da rua, às oito horas e dez minutos dessa mesma manhã fria. Debaixo do corpo um edredom fino e molhado. Por cima um pano que já foi cobertor. A fome dele é a mesma que a minha. O sono. O medo do dia. E da noite, sempre maior. Ele olha para os lados como eu. Espreguiça como eu. Senta-se na cama como eu. E eu? Passo ao lado, de nada adianta passar e sentir o estômago se retorcer num choro. Não paro, não volto, não falo, nada ofereço. Eu, tão mais suja que aquele passado de cobertor. E essa dor de cabeça! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário