quarta-feira, 13 de maio de 2015

Contagens

Quatro e vinte e dois. Madrugada de inverno, apesar do outono. O poeta já escreveu que na verdadeira escuridão da alma são sempre três da manhã, a minha hoje se atrasou. Talvez o frio. Minha cabeça dói. Calculo prazos. Reescrevo mentalmente memorandos e petições; que desperdício para a verdadeira escuridão da alma; mas continuo revendo os trabalhos que conseguirei e não conseguirei entregar. Quem me desprezará? Não posso acender o abajur e continuar com o livro que me consome (será isso?) se alguém dorme ao meu lado. Escuto a respiração. Não saio da cama, não me animo a construir outro ninho. Os livros na cabeceira, aquele especial que está me roubando da prática em que não me encaixo. Contas para pagar. A vida é besta. É? E se eu fosse para debaixo da cama, como as crianças nos filmes? E se contasse carneirinhos? Pensei em filhotes de golden retriever. E se me lembrasse dos momentos alegres da minha vida que está chegando aos quarenta? O primeiro choro dos meus filhos. As flores nas salas de aula. A primeira vez em que vi a Torre Eiffel. Todas as vezes em que sentei no chão para rir. Até eles aparecerem: então abraço os joelhos, fecho os olhos, respiro fundo e conto meus mortos. 

Um comentário:

  1. Esse post me lembrou uma cena do filme NAO SEI COMO ELA CONSEGUE em que ela fica na cama fazendo listas mentais sobre tudo até pegar no sono. Tão eu!
    Bj e fk c Deus.
    Nana
    http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com.br

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