Um homem dorme na porta do meu prédio. Está escuro, mas é um
homem. Uso calça com meias compridas debaixo dela, botas de cano longo, blusa
de lã e um casaco. Ele está debaixo de uma pilha de jornais e farrapos e fora
isso só vejo sua cabeça envolta num gorro de lã: verde claro, desse verde que
se usa para enxoval de bebês. O homem dorme. Eu fico parada. O porteiro abre o
portão para eu entrar, não entro, pois um homem dorme na rua debaixo de jornais
e farrapos. Ele deve sentir a minha presença ali, não disfarço, ele acorda e me
olha. Boa noite, eu digo. Boa noite, ele responde. E se vira para a
parede.
De manhã, ele continua ali. Agora sentado. Lendo o jornal.
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