quinta-feira, 22 de maio de 2014

Quando o nunca mais é mesmo nunca mais


Fui cedo para a praia naquela manhã. Você estava para chegar. As férias estavam no fim e eu ainda não tinha visto o mar antes do meio-dia. Mas você estava para chegar, ia chegar cedo, queria que me visse ali, te esperando, a praia ainda vazia, nem de guarda-sol eu precisava, apenas uma cadeira de alumínio para te esperar sentada e contemplativa. Eu queria te dizer tantas palavras, desculpe-me e te amo eram algumas, apesar de você ter me dito uma vez que eu te amo era muito banal para traduzir o que você sentia por mim. Acho que você me escreveu isso, não? Já não consigo me lembrar, posso procurar nas cartas e bilhetes guardados. Onde mesmo? Porque eu queria te dizer essas e outras palavras, olhando nos teus olhos, fui para a praia cedo. Então eu pensava nisso, com aquela sensação de um grampo na boca do estômago, quando o porteiro do prédio em que eu estava hospedada me cutucou: eu precisava retornar uma ligação recebida da cidade em que eu morava, em que nós morávamos, e de onde você sairia para vir até a praia. Se eu soubesse assobiar, teria ido até o prédio assobiando. Como não sei, nunca soube, devo ter ido cantarolando mesmo. Retornei a ligação, os dedos tranquilos no teclado do telefone, e fui informada de que você não viria naquela manhã. Nem na outra. Nem na outra. Nem na outra e na outra e na outra e na outra e na outra... Ouvi as palavras lago, gelado, pulo, parada, cardíaca, choque...como até hoje não entendi o que aconteceu? Naquela manhã só entendi o significado de “nunca mais” e o que me sobrou foi essa ânsia de ter de dizer tudo o que se quer dizer no momento em que se pode dizer. Pode não haver outra chance. Nunca mais.

Um comentário:

  1. Trágico, mas real.
    Bj e fk c Deus,
    Nana
    procurandoamigosvirtuais.blogspot.com

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