quinta-feira, 1 de maio de 2014

Mulheres vêm de perto, homens vêm de longe

Às sete ela tomou banho.

Às sete e meia ela secou o cabelo.

Às sete e quarenta ela vestiu uma saia preta com uma blusa branca, trocou por um vestido preto, depois por um vestido vermelho, depois por uma calça jeans e uma blusa prata, depois por um vestido preto e branco e por fim se encheu de cor com um vestido de seda. Sandálias com salto alto, uma pulseira dourada no braço direito e brincos de grandes argolas.

Às oito ela caprichou na maquiagem: base, batom, rímel, lápis de olho, delineador, sombra, blush, iluminador, e no perfume: cítrico.

Às oito e trinta ela olhou o relógio, sorriu, e sentou-se no sofá. Facebook, Instagram, Whatsapp.

Às nove ela ligou a televisão e passou por cento e cinquenta e dois canais.

Às nove e dez ela ligou para a irmã.

Às dez ela tirou as sandálias.

Às dez e dez ela prendeu o cabelo num coque.

Às dez e meia ele chegou, e encontrou-a deitada no sofá, com uma calça de moletom, uma camiseta da Criança Esperança, um pacote de pipoca e o rímel borrado.


Ficou bravo. Era falta de carinho esperá-lo assim.

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