sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Adivinha


Se você tocasse violão, podia, agora, enquanto estou embrulhada na cama com medo de levantar, tocar algo para mim; eu te olharia encantada pensando como alguém consegue tirar música de um instrumento?, e talvez eu sorrisse e sentisse, por um segundo que fosse, que a vida, afinal, não pode ser assim tão assustadora. Se você cozinhasse, podia, agora, tirar esse queijo quente da minha frente, que fiz com um pão cuja idade não sei nem calcular, quando foi a última vez que fui até a padaria?, e me puxar pela mão para me mostrar o molho que tinha preparado para eu comer com uma massa levinha e um vinho que você iria abrir já, porque estamos aqui, e isso basta. Se você lesse poesia, podia, agora, me tirar desse sofá e da frente da tevê, para me ler um trecho do Helder, do Bandeira, da Cora ou da Sophia, qualquer um, qualquer trecho, desde que fosse para dizer em seguida, ou antes, que tinha lido e pensado em mim, um trecho desses que nos tiram o fôlego por um instante e nos fazem olhar o assombro. Se você. Se você soubesse que é para você que escrevo, você, viria?



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