Se você tocasse violão, podia, agora, enquanto estou
embrulhada na cama com medo de levantar, tocar algo para mim; eu te olharia
encantada pensando como alguém consegue tirar música de um instrumento?, e
talvez eu sorrisse e sentisse, por um segundo que fosse, que a vida, afinal,
não pode ser assim tão assustadora. Se você cozinhasse, podia, agora, tirar
esse queijo quente da minha frente, que fiz com um pão cuja idade não sei nem
calcular, quando foi a última vez que fui até a padaria?, e me puxar pela mão
para me mostrar o molho que tinha preparado para eu comer com uma massa levinha
e um vinho que você iria abrir já, porque estamos aqui, e isso basta. Se você
lesse poesia, podia, agora, me tirar desse sofá e da frente da tevê, para me
ler um trecho do Helder, do Bandeira, da Cora ou da Sophia, qualquer um,
qualquer trecho, desde que fosse para dizer em seguida, ou antes, que tinha
lido e pensado em mim, um trecho desses que nos tiram o fôlego por um instante
e nos fazem olhar o assombro. Se você. Se você soubesse que é para você que
escrevo, você, viria?
Beleza querida! E pensar que você é tudo isso, é Ainda escreve bem!
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