É por medo que seguro tua mão. É por medo que grito. E você
pensando que estou te guiando. E você pensando que estou brava. O ursinho que
você solta logo depois que pega no sono vem para o meu colo. E não é para
deixar o quarto arrumado nem por distração que o seguro contra o meu peito. É
porque não sobrou ninguém. Eu o aperto. A imagem de São Francisco, de São Bernardo, da
Mulher Maravilha, do John Lennon, nada. Não sobrou nada, só o ursinho que você
soltou quando entrou no sono, quando é maior a minha vontade de entrar debaixo
da cama e chorar. Se você ainda usasse chupeta, talvez eu também a pegasse para
a minha boca, meus olhos fechados, nem mesmo encontro alguém para quem rezar. Olho
você no sono de quem acredita estar protegido. Por mim. E finjo que você pode
acreditar. E diminuo diante da minha farsa, penso em me esconder na secadora,
no armário do banheiro, na gaveta de meias, na mala que não levamos para viagem alguma porque não viajamos. Penso em fugir para te livrar de
mim, do meu medo, da minha impotência, do meu corpo que engana. Não sei te guiar, nem mesmo quando pego na tua mão para irmos até a padaria. Nem
pão há para cada um de nós. Como te explicar que não há nem pão para cada um de
nós? Não explico, mas é também por isso que não encontro para quem rezar, e me afundo mais um pouco no faz de conta que criamos há
tanto tempo. Te devo desculpas, um pedido de sinto muito, não sei como dizer o que te devo, nem mesmo posso dizer
que fiz o melhor que pude. Porque não fiz, não faço, talvez nem farei. Por
medo, principalmente por medo. O grito que não sai de mim, o grito que você não
escuta, é ainda mais assustador. Nisso, você pode acreditar.
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