São nuvens opacas e densas que escondem o azul. Um bloco que
ameaça, mas não desagua. Agora vai, penso, mas o agora não chega. Nuvens cada
vez mais prenhas, mais cinzas, mais úmidas, mas que não se permitem. Olho e
vejo meu ventre no espelho, nenhuma brecha para a fuga. Por onde sairão os
nossos rebentos? Nenhum tempo mais para um aborto, precisamos parir esse
líquido todo, mesmo que saia uma gosma verde e cheirando a bosta, mesmo que nos matem, mesmo
que nos queimem, não há volta. Vai chover. Em algum momento vai chover e
estarei na rua, descabelada e nua, com as pernas abertas, entregando ao
mundo, aos berros, o que carrego em mim.
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