Aqui estão: minhas armas. Não lutarei mais e por motivo algum.
Não há nada mais que eu possa carregar: uma metralhadora, um revólver, uma
faca, um soco inglês, uma caneta, um sorriso, uma pena. Que tudo fique como está: gramado sem
pés que o pisem, pessoas dormindo sobre jornais nas ruas, contratos vitalícios
com operadoras de telefonia e TV a cabo, meninas estupradas pelos pais e
padrastos e tios, automóveis acima das pessoas, crianças roubadas nas ruas,
celulares sem sinal, aposentadoria aos noventa anos, trânsito em julgado após
doze anos, carros com preços de imóveis, imóveis com preços que nem sei
pronunciar, bolsas com preços de carros, carros carros carros, o dedo do meio
dos motoqueiros e dos motoristas, lanche feito de isopor com aroma de peito de peru
defumado, o fim da filosofia e da sociologia, o caixa dois, três e quatro, o dinheiro do cafezinho e das joias, árvores
derrubadas, os juros, cachorros mortos a pauladas, minhas feridas abertas, todas, que
deixarei expostas às moscas, debaixo do sol no meio de um dia de verão, na rua,
no asfalto, no concreto, até que explodam e vazem minha tristeza fétida por uma
avenida de trinta mil reais o metro quadrado, no mínimo.
Confesso que também tenho vontade de me desarmar quando vejo em que pé está a humanidade.
ResponderExcluirBj e fk c Deus.
Nana
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